O Peso da Perfeição
Laura começa seu dia bem cedo. Sua rotina matinal é planejada com precisão: yoga às 6h, café da manhã às 6h30, e revisão do dia às 7h. Para ela, essa organização rígida é essencial para manter a mente tranquila num mundo agitado.

No entanto, ao chegar ao trabalho, Laura frequentemente se sente sobrecarregada. Seus padrões pessoais são tão elevados que ela define metas desafiadoras. Por exemplo, decide terminar uma apresentação que só precisa ser entregue na semana seguinte, ainda hoje. Laura sente que precisa se esforçar mais do que os outros, como se estivesse sempre em uma competição invisível.

Durante uma reunião, Laura cometeu um pequeno erro ao apresentar um gráfico. Seu chefe, percebendo a falha, fez um comentário casual sobre a correção necessária. Para qualquer outra pessoa, isso seria um detalhe insignificante, mas para Laura, foi devastador. A preocupação com erros começou a consumir sua mente. "Se eu falhar no trabalho, sou um fracasso como pessoa," ela pensava. Seu coração acelerava e o rosto esquentava, temendo o julgamento dos colegas. Quanto mais pensava nisso, mais nervosa ficava, chegando ao ponto de ter "brancos" durante a apresentação.

A dúvida sobre suas ações era constante. Cada decisão, por menor que fosse, exigia um tempo enorme de ponderação. "Será que escrevi esse e-mail corretamente?", "Será que o relatório está bom?", "Será que meu colega achou que fui ríspida na resposta ao e-mail?". Esses pensamentos rondavam sua cabeça incessantemente. Laura demorava muito mais que o necessário para concluir tarefas, revisando e reescrevendo até sentir que estava ótima, embora essa sensação raramente fosse atingida.

À noite, conversando com sua terapeuta, Laura falou sobre a sensação de nunca ser suficiente. A terapeuta perguntou sobre sua infância, e Laura lembrou das altas expectativas de seus pais, que sempre foram muito exigentes e críticos. "Quando criança, fui punida por fazer as coisas menos do que perfeitamente," revelou. Ela sempre sentiu que precisava ser impecável para ganhar a aprovação e o amor dos pais.
Laura saiu da sessão se sentindo um pouco mais leve, mas ciente de que o caminho para lidar com seu perfeccionismo seria gradual. Voltou para casa, olhou para seu apartamento impecavelmente organizado, e se permitiu um pequeno desvio da rotina: uma noite assistindo a um filme, sem se preocupar com a perfeição. Foi um pequeno, mas significativo passo para aceitar que ser imperfeita também faz parte de ser humana.

Compreendendo o Perfeccionismo

A história de Laura ilustra como o perfeccionismo pode se manifestar. Este traço de personalidade envolve a tendência de exigir altos padrões de desempenho de si mesmo e dos outros, evitando falhas a todo custo. Embora traga recompensas, como sucesso acadêmico e profissional, o perfeccionismo também pode gerar sofrimento emocional significativo.

Em níveis moderados, o perfeccionismo motiva a busca pela excelência. No entanto, quando exagerado, pode resultar em autocrítica excessiva, culpa, vergonha e uma ruminação constante sobre falhas, gerando sofrimento psicológico. Perfeccionistas frequentemente experimentam emoções negativas com mais intensidade e têm dificuldade em sentir prazer, além de se sentirem desconectados de si mesmos e dos outros.

Origens do Perfeccionismo

Geralmente, perfeccionistas tiveram cuidadores exigentes e críticos ou cresceram com a crença de que só recebiam afeto quando atingiam bons desempenhos. Essa crença de que corrigir falhas levará à aceitação e reconhecimento pode ser profundamente arraigada, vinculando o desempenho ao valor pessoal.

O perfeccionismo também é comum em múltiplos transtornos psicológicos, como depressão, transtornos alimentares, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtornos de ansiedade. Por isso, é importante buscar padrões de pensamento mais flexíveis e realistas.

Você se identificou com a história de Laura?

Se você também sente que nunca é suficiente ou luta contra o perfeccionismo, a terapia pode ser um espaço para explorar essas questões. Não hesite em buscar apoio para entender melhor suas dificuldades e encontrar maneiras de lidar com elas. Vamos conversar e trabalhar juntos para encontrar o melhor caminho para você.

Gostou deste artigo? Compartilhe com amigos e familiares e ajude a espalhar a esperança!

SILVA, A. F.; BASSO, C. R.; AMADO, J. Processos transdiagnósticos na clínica em terapia cognitivo-comportamental: desregulação emocional, autocriticismo e perfeccionismo. Artmed. Disponível em: https://portal.secad.artmed.com.br/artigo/processos-transdiagnosticos-na-clinica-em-terapia-cognitivo-comportamental-desregulacao-emocional-autocriticismo-e-perfeccionismo. Acesso em: 29 jul. 2024.

BASSO, C. R.; SILVA, A. F. Conceitualização e tratamento dos padrões perfeccionistas. Artmed. Disponível em: https://portal.secad.artmed.com.br/artigo/conceitualizacao-e-tratamento-dos-padroes-perfeccionistas. Acesso em: 29 jul. 2024.